terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Daber she ze anachnu: Terça do Funk

"Posta com raiva!" - MC Marcelly sobre V.H

"Ele tá que tá..." - MR Catra sobre Salada Livre

"Só postada violenta!" - MC Luan sobre Terça do Funk

"Ratatatatatá, ratatatatatá!" -MC Doriva sobre Salada Livre

Sentiu saudades? Nem eu... mas depois de tantos pedidos e tantos sinais, resolvi por desenterrar a Terça do Funk.

Nesse sábado, dia 23 de janeiro, estávamos lá no - tão famoso - CIT (Centro de Informações Turísticas), da cidade de Niterói e, como o marasmo era imperdoável e não perdoava um cristão sequer, resolvi ler o caderno Prosa & Verso do jornal O Globo. Na última página me deparo com: Funk carioca em Israel. Ri alto e, só depois fui ler a notícia. Segue um trecho:




André Leones

"A luz não é das melhores, mas é possível ver o que está à frente e ao redor sem muitos problemas. No palco o cantor, duas dançarinas e o DJ com a parafernália de praxe. A galera dançando ao ritmo de funk carioca pode dar a impressão de que estamos na Cidade de Deus ou no Andaraí, mas não é o caso.

Estamos no Rich Mar, em Tel Aviv. Na platéia, brasileiros residentes ou de passagem pelo país cantam todas as músicas, coisa que não intimida os nativos e outros presentes no local. Pelo contrário: graças à música, a babel improvisada acaba por se tornar a mesma e única festa, como se todos ali farreassem juntos há tempos. Alguém poderia argumentar que se trata de uma característica da noite de Tel Aviv, cidade que, junto com a libanesa Beirute, é a mais cosmopolita do Oriente Médio, um ambiente secular se comparado ao de Jerusalém. Mas isso não importa. À medida que cantor, DJ e dançarinas incendeiam o lugar com uma sucessão de hits reconhecíveis mesmo por aqueles que não curtem a batida, temos a impressão de estarmos em um autêntico baile funk no coração da noite carioca.

Majestoso, gorducho, quem está no centro do palco fazendo o seu terceiro show naquela noite é o MC Sapinho de Israel. Careca coberta por um boné, camiseta larga e calça jeans enfileira frases e versos em português e hebraico. Está em seu elemento. O público percebe e canta com ele versos como: Na minha casa / O mal não vai entrar / Tem a bíblia e o alcorão / e na porta o Mezuzá". Todos ali parecem concordar alegremente que o "O bonde mais sinistro / É Jerusa e Nazaré". Assim, MC Sapinho segue em suas palavras, "introduzindo a cultura do funk" na pátria de Amoz Óz e Shimom Peres [...]"
Sandro Korn, o MC Sapinho de Israel, é o caçula de uma família de 4 irmãos e foi pra Israel depois do seu irmão mais velho fazer a aliyah (palavra que designa o processo pelo qual os judeus de outros países migram pra Israel) em 2000. Chegando lá, viveu no kibutz Ein Schofet, mas não teve tempo de se estabelecer: apenas 4 meses depois teve de servir o exército. Serviu dois anos na fronteira com o Líbano em um batalhão de artilharia antiaérea.

Todos sabiam do seu apreço pelo funk. Sempre que podia, vinha ao Rio e foi numa dessas que, numa festa de aniversário, foi convidado a dividir o Palco com MR Catra. Sapinho impressionou ao Chico Buarque do funk e logo recebeu uma proposta: Compor uma música juntos, misturando o hebraico e o português. Daí surgiu "Daber she ze anach(pigarro)nu, ou em português, "fala que é nóis". Logo o MC sapinho se tornou conhecido. Em Israel conhece Gilad Sabach, ou DJ Brasiloca e, com essa parceria, cai na noite de Israel chegando a fazer 60 shows por mês (TENSO), ganhando por volta de R$400 por apresentação.

Ele tá que tá introduzindo mais um elemento cultural brasileiro no mundo. No seu repertório tem Funk pra tudo quanto é gosto, dos antigos Raps aos funks mais novos.

Tenho que dar uma cutucadinha antes de ir embora. Uma vez, nem me lembro como, entramos numa discussão sobre o funk, diferente da bossa nova e do samba, não ter nada de brasileiro. Bom, como já disse antes, pingou aqui, misturou, disseminou, é nosso! Foi assim com o, hoje queridinho, samba e com a bossa. No vídeo a seguir podemos perceber os elementos da música dos antigos escravos brasileiros que, misturado ao eletrônico do hip-hop extrai-se o Funk Carioca. Desta vez em hebraico, inglês e português.

Segura essa:



E ae? Partiu Tel Aviv curtir um baile funk?

Shalon!

[Victor Hugo é: O Pente]